Em entrevista exclusiva, presidente da Unimed admite envolvimento crescente no clube e avisa que pode investir em estrutura
Celso Barros não é dos mais simpáticos a entrevistas. Arrumar um espaço na agenda do presidente da Unimed, patrocinadora do Fluminense, não costuma ser fácil. Inicialmente, o pediatra e empresário gostaria que a conversa acontecesse rapidamente, por telefone, mas depois concordou em ceder no máximo 30 minutos à equipe de reportagem do GLOBOESPORTE.COM. Mas as regras foram caindo. Durante o papo, se mostrou atencioso, não fugiu de nenhuma pergunta e acabou conversando por pouco mais de 40 minutos, atrasando a reunião do conselho diretor da Unimed que aconteceria em seguida - último compromisso profissional antes das curtas férias que tirou com a família.Histórias, gestos e planos: um perfil do chefão do futebol tricolor

- Se tivéssemos a política de investir em Xerém e um time que fosse inferior, talvez fosse mais fácil. As obrigações surgiram nessa relação, o que não impede que possamos rediscutir. Tenho até que rediscutir com o presidente esta questão. Vamos ver como as coisas vão evoluir. O Fluminense tem estes problemas de CT, de estrutura física, que são importantes. O presidente está envolvido nisso. Vamos procurar estar juntos, ajudar no desenvolvimento do clube - explicou.
Em sua sala na sede da Unimed na Barra da Tijuca, Celso Barros relembrou o início da parceria em 1999, reconheceu que o clube precisa saber aproveitar mais outros tipos de recursos, buscando uma independência maior, e afirmou que está muito empolgado com o elenco formado nesta temporada para buscar o sonhado e inédito título da Libertadores. Confira abaixo alguns momentos do bate-papo.
GLOBOESPORTE.COM: O senhor, como presidente da Unimed, investiria em um clube que não fosse o Fluminense?
Celso Barros: Se investiria... Bom, primeiro é importante saber como entramos nisto. O Fluminense estava na Série C. Naquele momento, em 1999, era uma oportunidade de marketing muito interessante. O Fluminense tem uma parcela grande de sua torcida nas classes A e B, um público interessante, como possuidor de plano de saúde. O Fluminense nunca tinha disputado a Série C e era uma atração para a torcida, que queria ver o time sair daquela situação, e para os demais, que gostam de assistir à desgraça do outro clube. A TV fechada se comprometeu a passar todos os jogos do Fluminense. Vimos que era uma oportunidade boa, naquele momento, de marketing. Coincidiu que eu era tricolor.
Uma coincidência?
Se tivesse, talvez, outra oportunidade, não sei se faríamos ou não. Mas fizemos, e foi um sucesso. O Fluminense foi campeão da Série C, depois teve aquela história, e voltou à Série A. A partir daí, fomos mantendo o patrocínio.
A relação entre Fluminense e Unimed é melhor para quem?
É boa para os dois. Não diria que é melhor para um ou outro. Ficaria até chato falar que é melhor para o Fluminense, se fosse o caso. Para a marca Unimed, foi importante isso. Tínhamos 238 mil clientes, e hoje temos 850 mil. A pergunta é sempre a mesma: “Foi por causa do Fluminense?”. Claro que não. Foi por causa de uma série de ações que a empresa teve na área de comunicação, de marketing, de valorizar o trabalho do médico. Nunca ninguém publica isso. Nossa preocupação sempre esteve voltada para a questão assistencial, que é a essência da empresa. Uma propaganda no intervalo do "Jornal Nacional" é uma forma de divulgar a marca, de mostrar os atributos. As placas no Brasileirão são outra forma de dar visibilidade à marca. Então, acho que foi positivo para os dois lados. O Fluminense estava na Série C e voltou à elite do futebol brasileiro. Nós tínhamos 238 mil clientes e hoje temos 850 mil. Temos clientes rubro-negros, botafoguenses, vascaínos, santistas, que torcem pelo Sport... O Fluminense, depois de 23 anos, voltou a disputar a Libertadores, ganhou dois títulos nacionais. Nestes últimos cinco anos, é a terceira Libertadores que vamos disputar. A relação é positiva para os dois lados. Hoje, há um reconhecimento, muito embora um ou outro setor queira fazer crítica aqui ou acolá, da importância deste patrocínio para o futebol do Fluminense, do Rio de Janeiro e brasileiro. Tivemos algumas críticas, e hoje diversos clubes utilizam a marca Unimed, não com a intensidade que fazemos. Tem parte da camisa, tem o short, no Brasil inteiro. O Resende tem Unimed, no Sul os clubes têm no calção.
Quando o senhor sair da presidência da Unimed, acredita que seu substituto manterá a linha de patrocínio?
Não tenho a menor ideia. É uma decisão que foi tomada pela diretoria. Entrei como diretor em 1994 e como presidente em 1998. Temos eleições de quatro em quatro anos. Em 1998, quando entrei, foram duas chapas, e a partir daí não houve chapa de oposição. Mas não sei. Uma nova diretoria, um novo diretor de marketing, podem ter um pensamento diferente.
O Fluminense é dependente da Unimed hoje?
A Unimed deve ser, até por tudo que é colocado, extremamente importante para o Fluminense. A Traffic é importante para o Flamengo para pagar R$ 750 mil para o Ronaldinho? E não está pagando... A Hypermarcas é importante para o Corinthians? É fundamental? Os clubes de massa têm necessidade de patrocínio, principalmente pela situação que vivem, com dívidas e estas situações todas. Os clubes hoje, na minha opinião, vivem muito de cotas de televisão. A bilheteria, que poderia ser algo rentável, é praticamente abandonada, e, quando vem a renda, é penhorada. Acho que é preciso encontrar outros mecanismos de sobrevivência: televisão, patrocínio, bilheteria, planos de sócio-torcedor, de fidelização, não só para ir ao jogo, mas para ajudar o clube a se tornar cada vez mais forte.

2012 (Foto: André Durão / GLOBOESPORTE.COM)
Não sei quem você ouviu (risos). Mas hoje tenho uma participação mais efetiva, junto à direção do clube, do que em 1999. Isso é natural. Sendo parceiro do clube, tenho de estar em contato com o presidente, com o vice de futebol. Agora, ainda temos um diretor executivo, que é o Rodrigo Caetano. Estou sempre conversando, vendo as melhores alternativas para o clube e para o patrocinador. Se você conversar com o Muricy, com o Renato Gaúcho, com o Cuca, vai ouvir o que eles pensam do Celso Barros. Ou com outros jogadores que passaram por lá, como Romário, Edmundo, Roger... Mas nunca tive essa história de mando. Sou responsável pela gestão da minha empresa, como presidente, o que não significa que mando nela. Ela tem um conselho de administração e tem 5 mil sócios. Isto, de mandar, é um conceito do jargão do próprio futebol ou da própria política.
Houve uma série de tentativas de contratação nos últimos anos, quase sempre com sucesso para o Fluminense. O caso mais recente é o Thiago Neves. Houve algum jogador no qual o senhor se interessou, quis contratar e não conseguiu? Porque às vezes fica a impressão de que o Fluminense ganha todas as disputas por atletas.
Nós já perdemos jogadores também. Por isso que, quando as pessoas fazem alguma reclamação de comportamento, eu não concordo. Nós já perdemos. Lembro de jogadores que tentamos e fizeram outras opções. O Tinga foi para o Internacional. Teve o Borges também. Não ganhamos sempre, não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário