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quinta-feira, 26 de julho de 2012

'Daiane' dominicana caça ouro inédito com salto mais perigoso do mundo


Primeira do país nos Jogos, Yamilet Peña é a única ginasta a executar em competições o Produnova, movimento com o maior grau de dificuldade


Yamilet Pena ginástica (Foto: AFP)

Ela é, por unanimidade, a que corre mais riscos na ginástica artística. Vira e mexe cai sentada, de costas ou de barriga no chão. Contrai o rosto, geme de dor. Não desiste. Se, na próxima semana, conseguir fincar os dois pés no colchão após o voo sobre a mesa e os dois mortais de frente, provavelmente caminhará dali direto para o pódio. Para o topo dele. Primeira ginasta da República Dominicana em Olimpíadas, Yamilet Peña, de 19 anos, é estrela em um país que tem apenas quatro medalhas nos Jogos, nenhuma delas conquistada por mulheres. Tem na brasileira Daiane dos Santos uma torcedora fiel.

Daiane chegou a treinar o Produnova, mas nunca o executou em campeonatos. Ninguém o faz, só Yamilet. O salto foi visto com perfeição pela primeira vez em 1999, com a russa Elena Produnova (veja o vídeo). Dezenove anos antes, porém, Choe Jong Sil, da Coreia do Norte, se arriscou nele durante os Jogos de Moscou-1980. Caiu sentada e, por isso, não teve direito a batizá-lo.
 
- A ginasta tem que estar bem aquecida. São dois mortais: se errar, escorregar... Se fizer um mortal e meio, pode cair de cabeça. Tem que ter muito domínio. A dificuldade é tão grande que, mesmo se ela cair de bunda, vai tirar mais de 15 pontos. É legal a Yamilet tentar isso porque é um país que não tem muita tradição. Torcemos para ela acertar - diz Daiane.

No Mundial de Tóquio, no ano passado, Yamilet acertou o salto nas eliminatórias. Na final, errou feio: costas no chão. Queda de costas ou de barriga é sinônimo de nota zero. O outro salto que ela costuma tentar é bem simples. O resultado leva em conta as duas notas.

- Se ela cair em pé, mesmo com uma execução ruim, será a maior nota da competição com uma grande diferença para a segunda colocada. Mas o salto é muito difícil, e a chegada não tem contato visual porque vem de frente. Mas veja que a nota final é a média dos dois saltos, então ela precisa ter outro salto de grau de dificuldade alta e também acertar - conta a árbitra brasileira da Federação Internacional de Ginástica (FIG), Andréa João.

A decisão de arriscar o Produnova foi tomada há apenas um ano. Yamilet e seu treinador, Francisco Sanchez Susana, sonhavam com o Mundial do Japão e com as Olimpíadas.

- Só teria chance de me classificar às Olimpíadas se fizesse algo que não tivessem visto. Para as meninas é muito mais difícil executá-lo porque não temos tanta força quanto os meninos - conta Yamilet, após um treino em ginásio ao lado de arena de North Greenwich, onde serão as competições de ginástica.
Venda de broches para ir a Londres
Yamilet Pena ginástica vila de londres (Foto: Reprodução / Facebook.com)Yamilet posa com uma réplica da tocha na Vila
(Foto: Reprodução / Facebook.com)
Yamilet Peña começou a competir internacionalmente aos 9 anos. Era 2003, e Santo Domingo, cidade onde mora, recebia os Jogos Pan-Americanos. Naquela época, a ginástica deixava de ser um sonho distante para ela.

- Eu era uma menina de 9 anos e, ao ver o Pan, tive a certeza de que a ginástica era meu esporte e que iria seguir a carreira de atleta - conta a dominicana.

Yamilet nasceu em uma família de poucos recursos e em um país onde a ginástica não tem tradição. Ela treina em um ginásio sem condições adequadas para uma atleta de alto rendimento e recebe do governo bolsa equivalente a R$ 150. Com a vaga para Londres conquistada, foi necessário buscar apoio. Até broches com o nome dela foram fabricados e postos à venda para ajudá-la na empreitada.

Foi uma campanha-relâmpago. A iniciativa privada se mobilizou, e Yamilet viu cair sobre ela uma enxurrada de ajuda. Por meio de convênios, viajou à França, onde passou a treinar em aparelhos de primeira linha.

- Representar a ginasta dominicana pela primeira vez é fascinante, não tenho palavras para explicar. Esperamos que minha participação ajude a desenvolver a ginástica na República Dominicana. Ainda é um esporte pouco reconhecido.
Por causa de Yamilet, República Dominicana teve curso para técnicos

A ginástica na República Dominicana ainda engatinha, mas Yamilet já fez com que o esporte desse os primeiros saltos. Os resultados dela mobilizaram o país de tal maneira que a confederação local pediu ajuda à FIG. Queria capacitar os professores do país. Em junho, Andréa João foi até lá por uma semana. Turma lotada.

- Yamilet é quase uma Daiane dos Santos na República Dominicana. Isso levou o país a solicitar um curso lá, e a FIG correspondeu.

Alguns anos atrás, Francisco, treinador de Yamilet, participou de um desses cursos.

- Este projeto tem democratizado o conhecimento da ginástica e criado oportunidades de mais países terem acesso ao que antes era restrito somente aos países do leste europeu. A classificação da Yamilet para os Jogos Olímpicos bem como sua participação nas finais de um campeonato mundial já podem ser consequência deste trabalho.
Adoro ver a Daiane se apresentar no solo e a Daniele na barra"
Yamilet
Yamilet conhece bem a ginástica a ginástica brasileira. Soube do corte de Jade Barbosa, brasileira que disputaria com ela a prova de salto. Se for possível, vai assistir às apresentações de Daiane dos Santos e de Daniele Hypolito.

- Adoro ver a Daiane se apresentar no solo e a Daniele na barra.

Em 2005, Yamilet esteve no Rio de Janeiro. Disputou o Pré-Pan, garantiu vaga, mas não voltou em 2007, por conta de lesões. Espera ter nova chance em 2016, nas Olimpíadas. Espera que, até lá, as quedas não a atrapalhem mais uma vez.

- O nível da ginástica dominicana era muito baixo. Eu me classifiquei para o Pan, mas tive algumas lesões, então não pude competir. Se elas não me impedirem, estarei em 2016. Olimpíadas no Brasil, imagina... Vai ser incrível...

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